segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Tempo

Sabe quando a verdade cai sobre ti?
Aquela que as crianças não conhecem,
Aquela que assusta, que machuca, que transforma
E te mostra que o tempo cria os piores monstros.
É um incômodo saber que por anos me enganei,
Meu problema foi sempre esperar que alguém fosse desenhar o futuro que sonhei,
Quando nunca nem mesmo tentei te ilustrar...
E a verdade caiu novamente, mas para outro lado,
Pro lado que não aguentou segurar,
Pro lado que te deixou no chão e continuou a caminhar,
E então parei por aqui pra respirar e escrever,
Que qualquer lembrança é passado,
E que o mesmo tempo que cria os monstros mais cruéis,
É o tempo que te livra do fardo e te deixa viver.

Gabriel Andreolli.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Deterioração Cardíaca

Eu atravessei o mar do tempo e enlouqueci mais um pouquinho com todo o sofrimento.
E abandonei. Abandonei os segundos e entrei em erosão.
Enxerguei-me enrugado, de cabelos brancos em profunda solidão.
Os vermes das eras alimentaram-se da boa vontade da matéria, com prontidão.
E aqui me encontrei, em meu leito,
Lendo as memórias de uma vida sem glória, de arrependimentos.
Mas esse sou eu, um império em chamas meio desatento com as batidas do coração.
E está parando. Parou. Pronto.

Gabriel Andreolli.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Relação Alcoólica

Quando a visão está turva e teus pés vão de encontro a cada passo,
Quando a garrafa de vinho termina e o vazio maior ainda é o teu espaço…
Quando aquele perfume invade teu quarto,
E ao invés de derrubar uma lágrima sequer só desejas mais um frasco.
Entre sem bater, tire os sapatos.
Aproveite essa relação alcoólica,
Que quando acordar não vai saber onde está.
Correndo sem parar nunca vai encontrar,
Porque nem sabes mais o que procura.

Gabriel Andreolli.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Volúpia

Ah, guria...
Grita em meus ouvidos o que eu quero escutar. Beija meu pescoço como quem quer me agradar.
Tira a tua roupa, sem pressa, pra eu te observar. Deita em minha cama só pra eu te mostrar que meu quarto também ri no final.
Dê-me calafrios, pra que eu possa te aspirar. Puxo teus cabelos pra que possamos prosperar.
Vira de costas e me deixa desenhar na volúpia que são os detalhes do teu corpo, um novo sistema solar.
Agora quebra o silêncio com o suspiro que te faz flutuar, lava essa alma corroída que insiste em se guardar.
Ah, guria, me ajuda a te ajudar...
A garrafa está vazia e a madrugada vai chegar...
Minha mão está fria e acabamos de começar.

Gabriel Andreolli.